quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Militância que nos conecta


 
         
A necessidade de registrar uma sensação de conexão minha com as lembranças de meu pai me faz escrever este texto, tenho sentido novamente e com muita intensidade a magia causada pela escrita, mais exatamente pelo poder que a mesma tem de eternizar sentimentos.
Para que eu tenha condições de despertar a sensibilidade com as palavras e aumentá-la, procuro ter referências de outros escritores e poetas, algumas referências são buscadas, outras, nos buscam e nos completam.
A trajetória literária de meu pai me atravessou muito sem que eu tenha procurado, uma das razões que contribuíram significativamente para isto foi a proximidade da minha vida com o seu trabalho. É evidente que há elementos que distanciam e elementos que unem o meu modo de escrever e o dele. Não gosto muito de discutir esta questão, justamente para fugir de qualquer comparação.
Mas, um detalhe me traz orgulho e ao mesmo tempo traz para perto de mim o meu pai, a veia inquietante da militância política talvez seja uma das coisas que mais me aproxima dos escritos de José Cardoso Costa (Zé Bedeu), é claro que nossas inquietações políticas se confundem e ao mesmo se diferem.
Algumas problemáticas e opressões que enfrentamos foram iguais e algumas diferentes, assim como nossas vivências.
No decorrer da leitura do livro de memórias: Confesso que Vivi de Pablo Neruda, percebo-me atraído por uma causa revolucionária que envolve a obra do chileno, e penso realmente que a obra de qualquer artista deve estar disponível para atender causas sociais que clamam por revoluções. Pelo menos, gostaria que a minha também fosse conhecida e respeitada por tal característica.
O que isto tem a ver? Simples, meu pai também era apaixonado com as possibilidades que os seus poemas tinham de revolucionar, ele desejava isto! Ele bebeu na fonte de muitas revoluções latino americanas.
Eu sou eu e o meu pai foi o meu pai, óbvio. Porém, mesmo que de formas diferentes, as minhas palavras estão disponíveis para servir novas lutas, assim como as palavras de “Zé Bedeu” foram armas para as lutas dele.

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